(La Piel que Habito) Espanha.
Direção e roteiro de Pedro Almodóvar. Paris filmes. Com Antonio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet, Roberto Alamo, Jose Luiz Gomez,Blanca Suarez, Eduard Fernandez. 117 min.
Classificação: 16 anos.
Crítica de Rubens Ewald Filho.
Depois de terem brigado feio e ficado sem trabalhar juntos por 19 anos, Antonio Banderas e o diretor Pedro Almodóvar se reencontram pela primeira vez desde o filme Ata-me.
Neste filme de reencontro, não se repete fórmulas. Almodóvar preferiu surpreender, partir para algo completamente diferente. Nada de comédia, nada de melodramas burgueses (ainda que escandalosos e desfrutáveis). Pedro resolve surpreender. E quem sabe chocar.
Desta vez, ele não usa uma história sua, mas fez uma adaptação livre de um livro de Thierry Jonquet que se chamavaTarântula. Algo que esta próximo da ficção científica. E que ele teria modificado bastante, ainda que conservando o tema da vingança e acentuando o da identidade sexual, a transexualidade.
Banderas faz um médico cirurgião plástico que perdeu sua filha adolescente, numa situação trágica. E também a mulher que morreu queimada. Isso o levou a fazer experiências com um novo tipo de pele artificial, sintética capaz de ter muita resistência. Passou a morar numa casa grande, onde também faz suas experiências a mais interessante com uma paciente inquieta com quem mantém um caso amoroso mas que deseja fugir (a bela e interessante Elena Anaya, que esteve em Fale com Ela, Inimigo Píblico 1 e 2).
Mas tudo é complicado porque junto mora uma espécie de ama que ele não sabe que é sua mãe verdadeira (a grande e habitual parceira de Almodóvar, Marisa Paredes). Esta por sua vez tem um filho completamente tarado e criminoso, que irá atacar a moça, provocando uma outra tragédia.
O importante é que as explicações irão vindo aos poucos e de maneira surpreendente e até atrevidas. Como disse, alguns vão se horrorizar, outros achar divertido (o humor está sempre subjacente), alguns mesmo devem rejeitar.
Eu particularmente gostei de ver Almodóvar partir para novos caminhos, nunca dantes navegados por ele. É impressionante a diferença de realização, de capacidade narrativa entre os primeiros filmes de Almodóvar e esses recentes.
Ele realmente se tornou um grande cineasta. Mas acho saudável que de vez em quando ele nos relembre que não devemos levá-lo tão a sério, procurar grandes recados ou mensagens. Ainda mais com um velho companheiro como Banderas para embarcar nessa jornada, sem fazer questão de ser mocinho ou simpático.
De qualquer forma há uma referência não muito lisonjeira ao Brasil, que é mostrada como terra de nascimento do protagonista Banderas (segundo Almodóvar, que conhece o país bem e chega a dar um flash de algo que poderia ser nossa favela. Ele teria escolhido o Brasil porque tem sua cirurgia plástica desenvolvida, mas porque admira nossa cultura, que não é baseada em complexo de culpa ou pecado como os espanhóis católicos – ele já me disse isso pessoalmente -, ou seja não são tão vítimas da criação judaico-cristã).
Enfim, tudo isso dá mais condimento ao molho. Não entro em detalhes que são muito tentadores para não estragar o prazer do espectador em descobrir os segredos do filme.
Cine Arte Posto 4
Praia do Gonzaga
Av. Vicente de Carvalho, s/n – Informações e reservas: (13)3288-4009
Sessões: 16h, 18h30 e 21h. Ingressos: R$ 3,00.
Informações: http://www.cinearteposto4.com.br