Um palácio de 90 anos

Construído para centralizar, organizar e controlar as operações do mercado cafeeeiro, o edifício da Bolsa do Café de Santos completa 90 anos na sexta-feira (7). A data da inauguração do majestoso edifício da rua XV de Novembro, no Centro Histórico, não foi aleatória: 1922, Centenário da Independência do Brasil e nada mais emblemático quanto homenagear um produto que até então representava a principal fonte de riqueza do país. Na época, Santos era a maior praça cafeeira do mundo.

A crise econômica mundial iniciada com a quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929 atingiu de forma contundente a cafeicultura nacional. O último pregão aconteceu na década de 1950, quando os negócios do café foram transferidos para a cidade de São Paulo. O prédio foi reaberto em 1998 e tombado como patrimônio artístico e cultural nas três esferas de governo.

Hoje, não se negocia mais café na Bolsa, que se transformou em um dos cartões-postais de Santos, atração turística e cenário de novelas, filmes, comerciais e fotos de casamento. Em seu interior, funciona o Museu do Café, instituição da Secretaria de Estado da Cultura, que preparou uma programação especial gratuita para comemorar o aniversário.

Ontem e hoje

Se no passado era frenético o movimento de corretores com latinhas de amostras na mão, compradores e exportadores pela rua XV de Novembro, hoje impera a calmaria na via histórica do centro da cidade. As novas tecnologias modificaram a forma de negociar, como conta Michael Timm, presidente da Associação Comercial de Santos e diretor-geral da Stockler Brasil, empresa produtora e exportadora de café.

“A tecnologia substituiu muita gente. A internet, o telefone, tirou a presença física. Hoje, o corretor traz a amostra para degustação e a compra é efetuada a distância. O café adquirido vai para o armazém, quase todos localizados no interior paulista, onde é processado e chega a Santos em contêineres, pronto para embarque. A Bolsa tornou-se, na verdade, um ponto de encontro”, comenta Michael. Dos 30 armazéns gerais que existiam em Santos para atender este mercado, atualmente resta apenas um.

A figura do corretor, entretanto, ainda é fundamental para os negócios, no entendimento do empresário. “É ele que apresenta as amostras para os prováveis compradores, procura quem vai pagar o melhor preço. Isso dá liquidez para o produtor e transparência para o mercado”.

O Brasil é o maior produto mundial (com uma produção quase três vezes maior do que o segundo colocado, o Vietnâ) e também o maior exportador. Os Estados Unidos lideram como o maior mercado consumidor da bebida. E se no passado o Brasil viveu a chamada dobradinha do café com leite, que revezava a política do país entre São Paulo e Minas Gerais. Minas hoje detém o café e o leite. O Estado produz 50% do café do Brasil, seguido do Espírito Santo.

Expressão de riqueza e prosperidade

O majestoso edifício plantado no Centro Histórico de Santos, com suas cúpulas, vitrais, mosaicos de mármore, entre outros detalhes, reflete com precisão o período de riqueza e prosperidade que o ciclo cafeeiro representou para o país. A construção em estilo eclético é marcada, entre outras coisas, pela diversidade de origem do material de construção: cimento e ferros da Inglaterra, telhas e pisos da França, mármores da Itália, Espanha e Grécia e ladrilhos da Alemanha.

No interior do edifício, cristais belgas e bronzes franceses, tudo devidamente espalhado em cerca de 6 mil metros de área construída, com mais de 200 portas e janelas. A sala dos pregões tem no teto o vitral “A visão de Anhanguera”, de Benedicto Calixto, que assina três enormes painéis que enfeitam a parede do fundo. A elevada torre do relógio, com mais de 40 metros de altura, se impõe, à frente do porto, como importante referência paisagística e temporal da cidade.

Fruto Poderoso

“Café bom é aquele que você gosta”, sentencia Michael Timm, discordando da crença que o café de melhor qualidade no Brasil é destinado à exportação. “Isso foi no passado. Hoje, temos muita variedade no mercado, redes de cafeterias com cafés especiais”, explica.
Bebida apreciada em quase todo o mundo, o café contraria a lógica, já que é degustado fumegante mesmo em dias de extremo calor. A cafeína – presente no café e em algumas bebidas largamente consumidas, como chá, guaraná e refrigerantes à base de cola – induz à dependência por reduzir a sensação de fadiga. Uma xícara média de café contém, em média, cem miligramas de cafeína. Já numa xícara de chá ou um copo de alguns refrigerantes encontram-se quarenta miligramas da substância.

Uma das lendas em torno da descoberta do efeito estimulante do café é a do pastor Kaldi. Ao ver a agitação das cabras de seu rebanho, após a ingestão de alguns frutos do cafeeiro, Kaldi provou os frutinhos avermelhados, comprovando seu poder excitante. Isso teria ocorrido no ano 850. Outras fontes, entretanto, contam ter sido um monge árabe o primeiro a preparar uma infusão com sementes de café, a fim de livrar-se do sono que o impedia de realizar suas orações noturnas.

O café transforma o país

As primeiras mudas de café chegaram ao Brasil em 1712 pelas mãos de Francisco Mello Palheta, após uma estada nas Guianas Francesas, onde o produto já era cultivado. O solo e o clima do Brasil mostraram-se favoráveis à cultura da planta e, em pouco tempo, o café revelou-se uma fonte de riqueza para o país. No século XIX, as plantações espalharam-se pelo interior de São Paulo e Rio de Janeiro. Na segunda metade desse século, o café tornou-se o principal produto de exportação brasileiro, sendo também muito consumido no mercado interno.

O ciclo econômico do café teve forte impacto no desenvolvimento urbano e industrial da Região Sudeste. Boa parte dos lucros do café foi investido na indústria, principalmente de São Paulo e Rio de Janeiro, favorecendo o desenvolvimento deste setor e a industrialização do país. Ferrovias foram construídas para escoar a produção de café do interior paulista para o Porto de Santos. A primeira foi a Santos-Jundiaí, inaugurada em 1867. Os fazendeiros, principalmente paulistas, fizeram fortuna com o comércio do produto, como bem refletiam as mansões da avenida Paulista, na Capital. E foi o café que atraiu muitos imigrantes europeus, principalmente italianos, para reforçar a mão de obra nas lavouras de São Paulo.

PROGRAMAÇÃO ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO

Dia 7


16h  – Performance de Paulo von Poser, que pintará, com a técnica de acrílico sobre tela, a fachada do edifício em um painel com mais de dois metros de altura.
18h – Apresentação do Coro da OSESP.
19h30 – Abertura da exposição “Presente do indicativo – 90 anos da Bolsa Oficial de Café”. São painéis, fotografias, esculturas, grafites e instalações interativas que proporcionam um olhar contemporâneo sobre o tema.

Dia 8
17h – Espetáculo “Ópera & Café – Cantata do Café de Bach”.
Durante o mês de setembro serão realizadas visitações monitoradas especialmente voltadas ao edifício, além de ações educativas, oficinas e palestras. A programação completa está em http://www.museudocafe.org.br. A Bolsa do Café fica à rua XV de Novembro, 95, no Centro Histórico de Santos.

 

 

Jornal da Orla

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