
O diretor santista Afonso Poyart está a caminho de Hollywood. Ele vai ser o diretor do longa ‘Solace’, da Warner Bros, que tem no elenco o ator Anthony Hopkins, bastante conhecido por interpretar o serial killer canibal, Hannibal Lecter, nos filmes O Silêncio dos Inocentes, no qual ganhou o Oscar de Melhor Ator, e na sequência Hannibal. O famoso ator, que já foi dirigido pelo também brasileiro Fernando Meirelles (Cidade de Deus e Ensaio sobre a Cegueira) no longa ‘360’, está bastante satisfeito com a escolha de Poyart para dirigir seu próximo filme.
Poyart não esconde a satisfação e afirma estar muito feliz, até porque essa oportunidade veio poucos meses depois do lançamento de ‘2 Coelhos’, em janeiro de 2012 e que faz bastante referência à cultura pop, além de trazer uma tecnologia pouco usada nos filmes nacionais. O longa, que aposta em cenas de ação cheias de efeitos especiais, estrelado por Alessandra Negrini, Caco Ciocler e Fernando Alves Pinto serviu para divulgar o santista junto aos produtores americanos.
O diretor, que hoje tem 34 anos e começou seu trabalho há 15 anos em Santos, atualmente trabalha na fase de pré-produção de Solace e deve começar a filmá-lo em janeiro de 2013. Ele conversou com o Espaço de Cinema sobre a fase atual da carreira e falou sobre a experiência em Hollywood, a expectativa em dirigir Hopkins, além de falar sobre o trabalho em 2 Coelhos e o cinema na Baixada Santista. Confira a entrevista:
Como foi chegar a Hollywood ?
Depois que ‘2 Coelhos’ foi lançado comecei a ser sondado por alguns estúdios para dirigir filmes lá. Teve um processo que me levou a isso, de um manager que viu ‘2 Coelhos’ e me levou para os EUA, acabei sendo agenciado e a agência começou a mostrar meu filme para alguns estúdios que demonstraram interesse. Muita gente me mandou roteiro e um deles foi esse, que era um projeto bacana com o Anthony Hopkins já elencado. A gente aprofundou as conversas, tive um encontro com ele, com o pessoal do estúdio, reuniões com a Warner Brothers. E então a gente acabou fechando negócio e eles me contrataram para fazer esse filme.
Qual a expectativa de filmar com Anthony Hopkins?
Estou super animado. É um trabalho duro, pois não é um processo simples. A gente tem trabalhado muito no filme, arrumando roteiro, buscando o resto do elenco, fazendo o orçamento bater no orçamento que precisa chegar. Não é simplesmente ser contratado e ir lá filmar, pois antes tem que passar por muita coisa. E é um aprendizado para mim participar desse mercado organizado, e que realmente é uma indústria de cinema. Eu estou muito animado, feliz e trabalhando para caramba, tentando fazer o melhor possível.
Você chegou a imaginar que chegaria a esse patamar e ir filmar nos Estados Unidos?
Eu sempre quis isso, sempre olhei para esse lado de querer fazer um filme no exterior, participar do mercado internacional de cinema. Acho que esse foi um sonho meu, é um sonho de muitos diretores e não imaginava que fosse acontecer rápido como aconteceu, logo depois de ‘2 Coelhos’. Seis meses depois de ‘2 Coelhos’ ter estreado no cinema eu já estava com o contrato lá. Quando eles vieram falar comigo, eu pensei que fosse demorar uns dois anos para eu realmente ter um filme e isso aconteceu de repente. A gente trabalhou muito para isso, não caiu no colo. Quando apareceu o filme, a gente foi atrás, pensou, fiz uma apresentação para eles com a minha visão do filme.
‘2 Coelhos’ foi bastante aclamado por inovar na linguagem do cinema e por ser recheado de ação e efeitos especiais. Em que você se inspirou para criar o longa?
Eu sempre quis fazer um filme com essa ideia de um homem comum que monta um plano para se vingar desses dois males, desses dois vilões que é a criminalidade e a corrupção. Esse é o mote inicial da coisa, mas o filme é muito mais sobre uma redenção pessoal, dessa jornada de acertar as contas com o passado. Sobre essa coisa dos efeitos, eu sempre fui muito apegado nos thrillers, nos filmes que tem ação, que tem essa pegada espaço mais agitada. Eu comecei minha carreira fazendo animação, computação gráfica, então eu tenho uma facilidade. Então é natural que eu iria utilizar essa bagagem no meu primeiro projeto de cinema.
Teve o lado positivo, mas por outro lado, li várias críticas negativas sobre o trabalho, comparando com outros cineastas como o Guy Ritchie. O que você acha disso?
Eu não acho nada ruim compararem com o Guy Ritchie, eu gosto muito dele e eu não levo isso a mal. Não acho que tenha alguma a coisa a ver com o Guy Ritchie o filme. Em alguns momentos pode parecer com o Tarantino, pode parecer com um monte de gente. São as minhas inspirações. Cresci vendo filmes desses caras e eu gosto, então não tem como eu correr disso. Eu bebo dessa água e tento criar uma cara minha. Essas são as inspirações que eu tenho, desses diretores que eu acho que são legais, que são interessantes.
Em ‘2 Coelhos’ você trabalha com inserções de animações e imagens que remete à videogame, inovando a linguagem do cinema nacional. No próximo filme, você pensa em algo que vá para essa direção?
Eu tenho um ponto de vista muito formado sobre como um filme deve parecer e como deve ser feito. Eu quero manter isso e tento deixar claro para todo mundo que se estão me chamando é porque eu vou com a minha concepção visual e é isso que eu estou tentando fazer nesse filme. Não quero ir lá filmar alguma coisa do jeito que tem que ser filmando porque alguém me disse que tem que ser assim. Eu tenho uma visão, um ponto de vista muito formado sobre isso, sobre a questão estética. Não gosto de coisa igual aos outros. O que me deixa animado é poder explorar caminhos inusitados em um projeto como esse. ‘Solace’ é um filme paranormal, tem uma aura sobrenatural. É sobre um cara que tem poderes paranormais, então existe uma possibilidade muito grande para o uso de efeitos visuais nesse filme também.
Com essa participação em uma produção de fora do país, como você pensa o cinema como forma de uma identidade nacional? Ele perde essa característica ou é um reconhecimento de profissionais brasileiros da área?
O cinema brasileiro está muito legal. Ele tem formado pessoas muito bacanas. O cinema americano trabalha muito com diretores de fora, de todos os lugares. É um lugar aberto e você tem diretores sueco, dinamarquês, de tudo quanto é lado trabalhando. Eu acho que se a gente tem formado diretores bacanas, que sejam por essa indústria, eu acho bacana, um processo legal. Eu quero fazer filme onde tiver um projeto legal. Por acaso eu acabei entrando em um projeto que tem um formato meio hollywoodiano, de um estúdio grande. Mas eu me interesso muito pelo cinema inglês que é uma coisa com mais independência. Acho que a gente só ganha com isso. Eu tenho outro projeto para fazer aqui logo quando eu voltar e estou super animado para fazer isso, tenho também projetos que são coproduções Brasil-Estados Unidos. Acho que só cresce, só melhora para o Brasil essa relação dos diretores internacionais lá fora. Existe um interesse muito grande do cinema americano, não só dos diretores, de filmar projetos fora. Se o Brasil acertar os ponteiros em algumas coisas, ele pode ser um lugar aonde a gente vai trazer projetos grandes assim como Peter Jackson levou para a Nova Zelândia todo esse projeto do Senhor dos Anéis. Eu adoraria ter um formato parecido aqui no país. O Brasil é um país grande e é totalmente interessante isso pois a gente tem uma mão de obra bacana, os filmes são um pouco mais baratos, provavelmente, e se fizer esse intercâmbio com o cinema americano, eles tem à mão deles uma ferramenta de distribuição sem igual. Eles distribuem filmes no mundo todo, com capacidade, com dinheiro.
Como você decidiu entrar no mundo do cinema?
Foi muito natural, eu já gostava de fazer animação, gostava dessa coisa visual, gostava de filme. Eu sempre soube que eu queria fazer isso desde muito moleque. Com 17 anos eu já tinha minha produtora fazendo algumas coisas em Santos.
Como você vê o cinema na Baixada Santista? Festivais como o ‘Curta Santos’ ajudam na difusão do cinema local?
Eu acho que ajuda sim, mas efetivamente, como indústria, Santos precisa ter uma escola de cinema, precisava ter, de repente, uma política de incentivo que seja mais ou menos parecida com Paulínia. Se possível, fazer produções virem para Santos, isso é muito importante. Para mim isso é essencial, se quer desenvolver o cinema na região, começa a formar equipes, pessoas, talentos, equipe técnica. Tem uma proximidade grande com São Paulo e isso é bom, Santos tem espaço para isso, tem área. A gente tem agora o petróleo que de repente pode ser uma maneira de ter incentivo da Petrobrás voltado para essa área de cinema mais ou menos nos moldes de Paulínia: você leva produção para lá e eles te dão recursos. Se Santos tivesse uma iniciativa ou pelo menos um projeto nesse sentido seria muito legal.
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