Pouco mais de um mês para o início da temporada de cruzeiros, a única certeza é de que Santos voltará a ser o porto mais movimentado do País na navegação costeira de turismo. Embora ainda possam ocorrer mudanças entre o início de novembro e o final de abril, período da movimentação de navios de turismo, deverão passar pelo porto 21 transatlânticos que farão pelo menos 212 escalas.
A previsão, por enquanto, é menor que os resultados alcançados na temporada 2010/2011, quando 22 navios escalaram Santos 310 vezes. Passaram pelo Terminal de Passageiros da Concais, segundo as informações da empresa, 1 milhão e 120 mil passageiros, recorde desde o início das operações em 1998.
O aumento do valor do dólar frente ao real tornou os cruzeiros mais caros internamente e a própria demanda pode ter chegado a um teto, segundo os operadores de turismo que não creem que o fator crédito possa acrescentar, por si mesmo, números muito maiores que os do ano passado. A crise que se abateu sobre os países europeus, especialmente os ibéricos, também criou problemas adicionais às companhias. O conjunto de fatores pode explicar uma possível redução da demanda nesta temporada em comparação com a recordista temporada passada, 2010/2011.
Os cruzeiros passaram a tornar-se uma indústria no Brasil a partir de 1995, quando se liberou a cabotagem (navegação entre portos brasileiros) para navios estrangeiros. Com o fim do impedimento, as grandes companhias passaram a utilizar os roteiros do hemisfério sul como alternativas aos períodos de inverno no hemisfério norte.
Para a cidade e região, a temporada de cruzeiros significa atividade econômica, que se espraia por diversos ramos de serviços. Segundo a empresa Concais, que gerencia o Terminal de Passageiros, a receita gerada nas últimas cinco temporadas em itens como operação portuária, abastecimento de combustível, água e alimentos, serviços portuários, coleta de lixo, entre outros, chegam bem próximos de R$ 1 bilhão. O comércio em geral e serviços adicionais, como estacionamento, táxis, ônibus turísticos, carregamento de malas, também abocanham o seu quinhão das atividades de turismo marítimo.
Nos próprios navios, que conforme estabelece a legislação, é necessário ter um percentual de brasileiros, as temporadas representam também um espaço de trabalho temporário que, não raramente, se torna permanente, nos serviços de bordo. Para esta temporada que se inicia em um mês, por exemplo, serão criados cerca de 600 postos de trabalho.
No conjunto das atividades a geração de empregos é bem maior, computados todos os serviços. Segundo avalia Concais, na temporada passada, que foi recordista em escalas e passageiros, foram criados 4.900 empregos diretos e 19.500 indiretos, em atividades que refletem o aumento das atividades no porto.
Não há levantamentos municipais sobre impostos recolhidos em toda a cadeia produtiva associada às atividades dos cruzeiros marítimos, mas as temporadas de verão já incorporaram o turismo marítimo, naturalizando-o.
Obras de estrutura – Santos já iniciou obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) voltado para a Copa do Mundo. Na região é existe a necessidade de dispor de leitos de qualidade para atender os visitantes de 2014, e a retificação do cais de Outeirinhos, permitindo maior número de atracações simultâneas, faz parte desse projeto. Para o Ministério dos Transportes, essa obra permitirá que Santos se torne rapidamente um dos portos mais importantes do mundo na movimentação de passageiros, chegando aos 2,5 milhões de turistas ao ano.
Durante o período de construção haverá cuidados para não prejudicar a temporada de cruzeiros. Por isso a obra do cais retificado será feita em trechos. A primeira fase será entre o cais da Marinha e o Terminal T-Grão, envolvendo os trechos de 1 a 4, o que permitirá a continuidade das obras durante a temporada de cruzeiros desse verão.
Também o projeto do Centro da cidade, entre os armazéns 1 e 8, prevê berços para atracação de transatlânticos turísticos, o que demonstra uma aposta de longo prazo na indústria do turismo de cruzeiros marítimos.
Boa parte das reservas para cruzeiros já foi feita durante o ano, mas é o período de maior movimentação do mercado. Setembro, outubro e novembro costumam ser os meses de maior procura por pacotes variados, com partida e chegada em Santos. Para o norte, há roteiros que podem incluir até ilhas do Caribe e, para o sul, até as águas geladas da Patagônia. Há cruzeiros longos, além dos dez dias, mas também mini cruzeiros de três dias e duas noites, por exemplo. A diversificação, segundo os agentes que negociam os pacotes, visam oferecer diversidade de ofertas aos clientes, tanto em preço quanto em qualidade dos serviços e duração das viagens. Esse é justamente um dos elementos que exemplificam a maturidade da indústria e seu objetivo de permanecer em atividade a longo prazo.
Jornal da Orla