FRANÇA, 1º MOMENTO DO HAICAI
1925 – Oswald de Andrade publlica Pau Brasil, “o primeiro esforço organizado para a libertação do verso brasileiro” e para a fixação da “nova língua brasileira”. Nesta época de rápidas realizações a tendência é para a expressão rude e nua da sensação e do sentimento, numa sinceridade total e sintética:
Le poète japonais
Essuie son couteau:
Cette fois l’éloquence est morte.
O poeta japonês
Enxuga sua faca:
Desta vez a eloqüência está morta
(tradução de Alice Mesquita)
Erguido como bandeira modernista nem era haicai, nem era japonês, mas foi lido como tal por mais de 60 anos. É a história do primeiro momento de assimilação do haicai japonês à literatura brasileira. A primeira menção positiva ao haicai no Brasil deve-se a Afrânio Peixoto, 1919, Trovas populares brasileiras. Peixoto conheceu o haicai através de um livro de Paul-Louis Couchoud (1879-1959), nome-chave no orientalismo do começo do século XX. Couchoud esteve no Japão, 1903 a 1904; produziu em 1905, com dois amigos, seu primeiro conjunto de poemas inspirados no haicai: 72 tercetos sem métrica nem rima, reproduzindo mais o espírito do que a forma dessa poesia. A primeira publicação do haiku em francês deu-se através do anônimo “Au fil de l’eau” 1905 –15 páginas, trinta exemplares com 72 haikai (na grafia de P-L Couchoud), compostos durante um cruzeiro em barcaça (péniche), pelos canais da França, por Couchoud e os amigos, Albert Poncin, escultor e o pintor André Faure. Em 1906, Couchoud publicou dois estudos: “Les haïkaïs” e “Les épigrammes lyriques du Japon”, com cerca de uma centena de haicais traduzidos, ao que tudo indica, na maior parte do inglês. Couchoud destaca a singularidade do haicai:
É o mais elementar dos gêneros poéticos, um simples quadro em três pinceladas, uma vinheta, um esboço, às vezes, um simples registro (touche), uma impressão. Republicado no volume Sages et poètes d’Asie (1916), o texto correu o mundo, precedido de um prefácio de Anatole France, tornando-se uma das principais referências sobre ao assunto para os leitores de formação francesa. No Brasil, o livro de Couchoud foi, durante bom tempo, a fonte principal do conhecimento sobre o haicai. No grupo de Couchoud, destacou-se Julien Vocance (pseudônimo de Joseph Seguin -1878-1954), que publicou em 1916, uma coletânea de haicais de sucesso, Cent visions de guerre, e em 1921, “Art Poétique”, que saiu na revista La Connaissance. Foi a primeira estrofe desse poema de combate por uma poesia condensada, objetiva e afastada da tradição da eloqüência francesa que Paulo Prado tomou por haicai japonês e inseriu no prefácio ao volume Pau Brasil.
FRANÇA, UM BRINDE À ARTE!
Observando as exuberantes flores que se espalham nos jardins das cidades e vilarejos da França, lembramo-nos do haicai, poema em louvor à natureza, que se originou no Japão, mas que no Ocidente, teve o seu Primeiro Momento na França. Sendo a pintura arte de grande expressão nesse país, pensamos: por que não aliar o haicai à pintura? Daí a concepção e realização da exposição e deste livreto, graças à parceria e apoio da Aliança Francesa de Santos.