A Santa Casa da Misericórdia de Santos: sinopse histórica.

Santa Casa de Santos

Por: Henrique Seiji Ivamoto

Braz Cubas, auxiliado pelos prósperos moradores da região, iniciou em 1542 a construção de um hospital, que inaugurou em 1543, provavelmente no primeiro dia de novembro, data comumente reservada para as grandes comemorações. Chamou-o de Hospital de Todos os Santos, inspirando-se no nome do grande hospital de Lisboa e na data da sua fundação.

Segundo Frei Gaspar da Madre de Deus, o povoado de Enguaguaçu passou a ser chamado Povoado do Porto de Todos os Santos e Povoado do Porto de Santos, por aquisição do nome do hospital. Entre 1545 e 1547, o capitão-mor Braz Cubas elevou o povoado à categoria de vila, com o nome de Vila do Porto de Santos.

O primeiro prédio do hospital foi construído no sopé do outeiro de Santa Catarina, em local onde hoje se situa a Rua Visconde do Rio Branco, defronte ao edifício da Alfândega, no centro de Santos. Em 2 de abril de 1551 Braz Cubas conseguiu de D. João III, em Almeirim – Portugal, o alvará real de privilégios, o primeiro obtido por uma Misericórdia brasileira. Os jesuítas chegaram à região em 1553. A vila, o porto, a Irmandade e o Hospital cresceram sob a proteção do seu poderoso e dedicado fundador.

Felipe II da Espanha, neto de D. Manuel, fez-se reide Portugal em 1580. Corsários da Inglaterra e da Holanda, inimigas da Espanha, passaram a atacar as embarcações desta e as suas colônias, incluindo o Brasil. Após a destruição da Armada Invencível espanhola no canal da Mancha, em 1588, os ataques marítimos aumentaram, comprometendo o comércio com a Europa e reduzindo as atividades no porto de Santos.Pela época da morte de Braz Cubas, em 1597, avila entrava em decadência. O porto estava ocioso e as plantações e engenhos do litoral perdiam seus operários,pois muitos mudavam-se para o planalto, em busca de melhores oportunidades nas prósperas fazendas,entradas e bandeiras. Outro motivo era a fuga das doenças infecciosas, que assolavam as terras quentes, úmidas e alagadiças do litoral.

O Segundo Prédio

Houve um progressivo empobrecimento da comunidade e da Irmandade, sendo que o hospital deixou de possuir edifício próprio em 16203, e em 1654 chegou a paralisar suas atividades. Em 3 de outubro de 1654, D. Jeronymo de Athayde, conde de Athouguia, capitão general do Estado do Brasil, fez provisão de recursos financeiros aos Irmãos da Misericórdia de Santos, atendendo petição destes. Com a provisão governamental foi possível concluir, em 1665, a construção do segundo prédio da Santa Casa e da sua igreja, em local que ficou conhecido como Campo da Misericórdia, posteriormente denominado Largo da Misericórdia, Largo da Coroação e, por último, Praça Visconde de Mauá, junto ao prédio da prefeitura

O Terceiro Prédio

Terceiro prédio - Tela de Benedicto Calixto

Terceiro prédio – Tela de Benedicto Calixto

Em  1760 a Irmandade da Misericórdia terminou a construção de sua nova igreja junto ao Morro de São Jerônimo, atualmente Monte Serrat. Chamada inicialmente de igreja de São Jerônimo, foi mais tarde consagrada a São Francisco de Paula, que deu nome à Avenida São Francisco.

No período de 1804 a 1830, a Irmandade utilizou o Hospital Militar no edifício do antigo Colégio dos Jesuítas, onde hoje se situa a Alfândega. Em 1835 o provedor Capitão Antonio Martins dos Santos iniciou a construção do terceiro prédio próprio da Santa Casa da Misericórdia de Santos, no sopé do morro de São Jerônimo, junto à sua igreja de São Francisco de Paula.

O médico Claudio Luiz da Costa, eleito provedor inaugurou o hospital em 4 de setembro de 1836. O hospital cresceu, tendo sido criado um pavilhão para os tuberculosos. Um grande deslizamento de terras na face leste do Monte Serrat, ocorrido em 10 de março de 1928, soterrou a parte posterior do hospital e algumas edificações próximas.

Quarto Prédio, O Atual

Em 10 de abril de 1928, a Mesa Administrativa da Irmandade, representada pelo Dr. João Carvalhal Filho, na presença de representantes da comunidade, do Bispo Diocesano D. José Maria Parreira Lara, e do governador Dr. Júlio Prestes, lançou a pedra fundamental do prédio atual, na esplanada do bairro do Jabaquara, distante dos morros para evitar novo soterramento. Em 2 de julho de 1945, o novo prédio foi inaugurado pelo presidente Getúlio Dornelles Vargas. Com capacidade para 1400 leitos, o hospital era um dos maiores e mais bem equipados da época.

O hospital modelar veio a sofrer com os cortes nos investimentos sociais. Na área da saúde, os dispendiosos exames e tratamentos da medicina moderna foram em grande parte deixados sob a responsabilidade das instituições filantrópicas, em particular às Santas Casas de Misericórdia, remunerados a valores simbólicos. Para poder atender aos carentes, muitas Misericórdias economizam produzindo insumos, como medicamentos e alimentos, e gerando receitas com seus próprios planos privados de saúde. Os planos de saúde das Misericórdias têm obtido grande aceitação por serem mais econômicos, confiáveis e benevolentes que a maioria dos planos comerciais existentes.

Humanismo e Ensino Médico

Tendo prestado quase cinco séculos de assistência, a Santa Casa da Misericórdia de Santos participou de todos os ciclos da história pátria. Cuidou dos fundadores desta Nação – os navegantes lusos, colonos, nativos e escravos. Atendeu aos bravos bandeirantes e aos pobres condenados. Tratou igualmente de nobres e de vassalos do Império
Português e do Brasil Imperial. Serviu ao encontro de heróis da Independência e da Abolição da Escravatura, de tradicionais monarquista e de inflamados republicanos. Cuida de patrões e de operários, de empregados e de desempregados. Ponto de união entre  todos os segmentos da sociedade, é local de encontro de seus membros quando tomados pela dor e pela doença.

A Santa Casa da Misericórdia de Santos serviu para a prática e o ensino da Medicina quase três séculos antes da fundação da primeira faculdade de medicina no país. Ciência e muito de humanitarismo se praticou em suas enfermarias, nesta que é a primeira escola prática de medicina européia do país. Entre os mestres desta Escola, inspirados pelas obras das damas portuguesas Isabel de Aragão e Leonor de Lencastre, destacaram-se Braz Cubas, José de Anchieta, Claudio Luiz da Costa e Martins Fontes, entre outros abnegados, alguns de nomes muito ilustres e muitos outros desconhecidos que têm trabalhado nesta Casa de Deus para os Homens.

Carimbo postal comemora 250 anos de José Bonifácio

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Um carimbo postal comemorativo pelos 250 anos de nascimento de José Bonifácio de Andrada e Silva será lançado nesta quinta (11), às 10h30, na Sala Princesa Isabel, no Paço Municipal.

O evento faz parte da programação desenvolvida pela Comissão José Bonifácio, coordenada pela Fams (Fundação Arquivo e Memória de Santos), e formada por representantes da prefeitura e sociedade.

No hall do paço estará montada exposição filatélica (de selos), em parceria com os Correios e com a Federação Brasileira de Filatelia, que pode ser visitada até o próximo dia 18.

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Encontrada galeria de 120 anos no subsolo da Ana Costa

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A descoberta de uma galeria submersa na avenida Ana Costa, no trecho entre o Shopping Parque Balneário e a orla pode desvendar um mistério de aproximadamente 120 anos e mudar um capítulo da história da cidade. O achado deu-se por acaso, há 15 dias, durante uma obra da Siedi (Secretaria de Infraestrutura e Edificação).

“Durante uma escavação para trabalharmos nos dutos de infraestrutura e energia da região, foram encontrados resquícios da antiga galeria”, disse o engenheiro Glaucus Farinello, chefe do departamento de obras públicas da Siedi.

Com 18 metros de largura – ainda não se sabe o comprimento – e assoreado (coberto de areia) em boa parte de sua base, por conta da construção dos canais no início do século 20, a estrutura é composta por diversos arcos de tijolo, separados por alguns pilares feitos do mesmo material e perfil metálico, além de trilhos de bonde na parte superior dos arcos, que ajudam na sustentação do local, por conta das vigas metálicas.

Mudança

A descoberta pode reescrever a história do encontro dos dois rios, que até então presumia-se acontecer na altura do canal 3. “Essa galeria foi construída entre os anos de 1890 e 1896 e teria função de canalizar um rio que vinha dos morros e outro oriundo do porto. A descoberta contesta a versão, que muitos historiadores sustentam, de que a desembocadura dos dois rios seria na direção do canal 3.

Minha opinião é que isso acontecia na Ana Costa, contrariando os mapas. A galeria está localizada na direção da praça da Independência, caracterizando a passagem do rio. Não haveria sentido em fazer uma galeria ali se isso não acontecesse”, avalia o arqueólogo Manoel Gonzalez, diretor do Centro Regional de Pesquisas Arqueológicas, que, acionado pela prefeitura, iniciou um trabalho de pesquisa e estudo na galeria.

Entrevista

Diretor do Centro Regional de Pesquisas Arqueológicas, o arqueólogo Manoel Gonzalez é o responsável pelo trabalho de pesquisa e estudo da galeria encontrada no subsolo da avenida Ana Costa, no Gonzaga, entre a orla e a praça da Independência. Confira os principais trechos da entrevista concedida ao Diário Oficial de Santos.

Como surgiu esta descoberta?
Durante as obras de reurbanização do trecho foi encontrada uma galeria subterrânea, a qual teria canalizado o encontro de dois rios, um que vinha dos morros e outro do porto, os quais, na minha opinião, desembocavam na Ana Costa.

De que época são essas estruturas?
Por volta de 1890 e 1896 teria ocorrido essa canalização para a passagem dos bondes, que não conseguiriam passar por ali, para promover a valorização e crescimento desta região. Em 1895 também foi realizado saneamento no local, que era todo areia.

O que representa o achado arqueológico?
Agora vamos registrar a área no Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como sítio arqueológico. Com isso estamos fazendo o resgate desta história, que não foi perdida porque não foi nem mesmo registrada na época. Esta foi uma obra muito importante e de grande valor sanitário, arquitetônico e de engenharia. O achado também pode mudar o conhecimento sobre onde era o encontro dos dois rios, que para alguns historiadores ficava na área do canal 3.

Canais de Saturnino de Brito seguem atuais 84 anos após sua morte

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Conhecido por ter solucionado os graves problemas de saneamento da cidade no início do século 20, o engenheiro sanitarista Francisco Rodrigues Saturnino de Brito tem sua história lembrada domingo (10), data de sua morte há 84 anos.

Nascido em Campos (RJ), em 1864, foi autor do projeto de drenagem e coleta de esgotos, obra inédita, a partir de 1905, que obteve repercussão internacional.

Dos nove canais projetados por Saturnino de Brito, o canal 1 foi o primeiro a ser entregue. Além dos 2, 3, 4, 5 e 6, planejou outros nas ruas Moura Ribeiro (Marapé) e Barão de Penedo (José Menino), e av. Francisco Manoel (ao lado da Santa Casa). O sistema de drenagem foi complementado pela prefeitura com mais seis canais.

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Lembrança

Uma estátua em sua homenagem foi inaugurada em 1969, no jardim da praia do José Menino. Já as imagens dos canais na época da inauguração, móveis, equipamentos e projetos originais do engenheiro podem encontrados na sede da Sabesp, no palácio que leva seu nome (rua São Francisco, 128). A visitação pode ser feita de terça a domingo, das 11h às 17h. O ingresso é livre.

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Fams: restaurando memórias históricas e afetivas

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Recuperar uma obra de literatura centenária ou mesmo um certificado atingido pela umidade, além de preservar informações importantes também ajuda a manter lembranças vivas. A Fams (Fundação Arquivo e Memória de Santos), que trabalha com o apoio da prefeitura no gerenciamento de arquivos públicos e memória da cidade, promove há 13 anos o trabalho gratuito de restauro e conservação de livros e documentos para munícipes e instituições.

Para isso é preciso procurar o Arquivo Intermediário (rua da Constituição, 62) de segunda a sexta, das 9h às 17h. O material será analisado e, se viável a recuperação, passará por um processo artesanal que pode durar de uma semana até meses, dependendo do seu volume e estado de conservação.

Neste ano, cerca de seis livros passaram ou estão em fase de restauro a cargo das profissionais Adélia Alcover e Solange Blanco. “É uma grande satisfação ver como um livro chega e depois assistir a pessoa o recebendo recuperado. Muitas vezes é um objeto de estima, que pertenceu a sua mãe, pai ou outro familiar”, destaca Adélia.

Osmair aprovou serviço gratuito

O farmacêutico bioquímico Osmair Peres, 68 anos, ganhou, há mais de 15, livros relacionados à área em que atuou. Mas só recentemente soube do serviço da Fams, que está recuperando dois deles: uma obra nacional de 1956 e outra de 1908, esta última produzida pelo governo francês.

“Para mim elas têm valor sentimental e resguardam as memórias da minha profissão. O atendimento é excelente e, se fizesse em uma instituição particular, seria quase que inviável”. A Fams não cobra pelos serviços, apenas solicita, quando possível, a doação de materiais utilizados no restauro, como colas, papéis e luvas.

Bíblia, cartas e livros históricos foram recuperados

Importantes obras e documentos históricos já foram recuperados pela Fams, a exemplo de bíblia de 1763, pertencente ao Museu de Arte Sacra de Santos, e documentos originais de Patrícia Galvão, entre eles cartas correspondidas com o escritor Oswald de Andrade, para o Centro de Estudos Pagu da Universidade Santa Cecília.

Outro destaque foi a restauração, em 2009, do livro de visitas especiais do hospital Beneficência Portuguesa, inaugurado em 1875 pelo imperador Dom Pedro II em visita à região. “Sem o trabalho da Fams, não teríamos condições de passar às novas gerações parte da história escrita do hospital e da história do Brasil”, afirma Ademir Pestana, presidente da Sociedade Portuguesa de Beneficência.

Dicas para conservar livros e documentos

Livros devem ser arejados (folheando ou correndo todas as páginas) pelo menos a cada 6 meses ou uma vez por ano; utilizar trincha (pincel) para remoção de sujeira ou poeira na capa e na cabeça (parte superior do livro fechado); não deixar livros expostos a luz direta (artificial ou solar) ou em paredes e estantes próximas a locais úmidos, como banheiros;documentos e certificados não podem ser dobrados nem receber fitas adesivas; o indicado é que sejam guardados entre folhas de papel alcalino ou neutro, a exemplo de papel sulfite, que devem ser trocadas periodicamente.