
Uma vista privilegiada e sinônimo de diversão para moradores e turistas que visitam a Baixada Santista. Até mesmo quem frequenta constantemente a plataforma do Emissário Submarino, na orla da praia em frente ao bairro José Menino, em Santos, muitas vezes não tem ideia da importância do equipamento que passa sob o local onde hoje existe o Parque Municipal Roberto Mário Santini.
O equipamento, que completa 35 anos neste domingo, pertence à Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e atende às áreas insulares das cidades de Santos e São Vicente. Antes de 1978, ano em que o Emissário Submarino de Santos foi inaugurado, os rejeitos destes municípios eram encaminhados pala lançamento no Canto do Forte Itaipu, em Praia Grande, em um sistema do início do século XX, época do engenheiro sanitarista Saturnino de Brito.
Em sua inauguração – que contou inclusive com a presença do presidente da República, Ernesto Geisel – a estrutura de 1,75 metro de diâmetro implantada a 12 metros de profundidade avançava quatro quilômetros em direção ao alto-mar, de maneira que as correntes marítimas afastassem os despejos da orla da praia. A tubulação possuía 40 difusores em sua ponta (hoje são 76), por onde eram liberados para difusão os efluentes tratados na Estação de Precondicionamento de Esgoto (EPC) de Santos, também no José Menino.
Ampliação
Em novembro de 2009, por meio dos investimentos do Programa Onda Limpa, o maior empreendimento de recuperação ambiental do litoral brasileiro, foram acrescentados novos 425 metros de dutos transportados para a emenda com apoio de 25 embarcações, 15 mergulhadores e dois helicópteros.
A instalação ocorreu em duas etapas: a primeira, realizada durante a madrugada, foi feito o transporte dos tubos até a ponta do Emissário existente e a segunda – o afundamento – ocorreu no período da manhã, depois da tubulação estar posicionada e alinhada. Esse trabalho foi realizado pelos mergulhadores, que fixaram a nova tubulação.
O Emissário possui capacidade total de vazão de sete mil litros por segundo, antevendo um crescimento populacional previsto para os próximos 30 anos, pelo menos. “Todos os projetos da Sabesp possuem a característica de antecipar tendências em pelo menos duas décadas para atender demandas das próximas gerações”, destaca o superintendente da Sabesp da Baixada Santista, engenheiro João Cesar Queiroz Prado.
Um exemplo do exposto pelo superintendente é o fato de que, mesmo em períodos de alta temporada, quando a população dos municípios atendidos pelo Emissário chega a aproximadamente 1,5 milhão de pessoas, a vazão máxima obtida no equipamento é de 5,3 mil litros por segundo.
O engenheiro residente na construção do Emissário Submarino de Santos e atual presidente da Associação Sabesp, Pérsio Faulin de Menezes, destaca que as obras, de proporções inéditas, atraíram a atenção de profissionais e estudantes de diversas localidades. “Recebíamos excursões de escolas, associações de classe e até mesmo o governador da época, Paulo Egydio Martins, trouxe seus colegas de universidade para acompanhar os trabalhos”, comenta.

Como funciona?
A função do Emissário Submarino é difundir, em alto-mar, o material previamente tratado na Estação de Precondicionamento de Esgoto de Santos (EPC). Para isso, o descarte que sai das residências passa por redes menores, por gravidade, às estações elevatórias até encontrar as linhas que encaminham os despejos à EPC: os interceptores Oceânico e Rebouças.
Ao chegar à EPC, o esgoto passa por dois processos para retirada de sólidos, a desarenação (retirada de areia) e o gradeamento (para demais resíduos sólidos). Nesta primeira etapa são retirados, diariamente, cerca de uma tonelada de areia e oito toneladas de outros sólidos – descartados de maneira indevida na rede de esgoto. Esses materiais são destinados a aterros sanitários autorizados e adequados para esta finalidade.
Os líquidos resultantes das primeiras fases passam por processos químicos preliminares para difusão em alto-mar. Somente após estes tratamentos os efluentes estão prontos para encaminhamento ao Emissário Submarino, de maneira segura à população e meio ambiente.
Todos os procedimentos são automatizados monitorados. O material lançado também é constantemente testado em laboratório. “A Empresa tem total compromisso com a qualidade de vida da população e a preservação do meio ambiente”, ressalta o gerente de Departamento de Tratamento de Água e Esgoto da Baixada Santista, engenheiro Wilson Bassotti Filho.
Curiosidades
– As tubulações utilizadas para implantação do Emissário Submarino, em 1978, foram trazidas de navio da Itália.
– No Palácio Saturnino de Brito, no Centro Histórico de Santos, é possível ver uma parte real da tubulação complementar realizada em 2009, em uma sala interativa dedicada às obras do Programa Onda Limpa.
– No prédio centenário também é possível ver projetos, peças e fotos originais do início do século XX, quando Saturnino de Brito trabalhou no Palácio que hoje leva seu nome. O endereço é Avenida São Francisco, 128, no Centro Histórico de Santos. O passeio é gratuito.
– Por dentro do Interceptor Oceânico, que parte da Avenida Coronel Joaquim Montenegro até a Estação de Precondicionamento de Esgotos de Santos (EPC), pela orla da praia (cerca de 5,5 quilômetros de extensão), seria possível transitar uma perua do modelo Kombi, devido às suas proporções – três metros de largura por 2,7 de altura.
– Na década de 80 foi aventada a possibilidade de trazer instalações do parque de diversões Playcenter para funcionar na plataforma que hoje conhecemos como Parque Municipal Roberto Mário Santini.
A Tribuna
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